A visão pessoal de uma ex esposa de pastor da IURD
Sempre fui apaixonada por escrever e por isso resolvi, aos poucos, escrever algumas experiências que vivi ao longo de 21 anos em um instituição em que mergulhei profundamente mas consegui ‘emergir’ antes que me afogasse...
Respeito profundamente as pessoas que estão lá. Apenas quero compartilhar situações vividas que levem a muitos entenderem o porquê de sair após tantos tempo, e também o porquê ter entrado e ficado tanto tempo.
Certo dia ouvi de meu marido: - será que algum dia, talvez bem no começo, alguma coisa foi verdade? Ou tudo sempre não passou de uma grande busca de um homem aos seus próprios interesses?..
Eu fiquei refletindo sobre isso, e com um certo pesar, lamentei ter feito parte de alguma forma. Apesar de não poder respondê-lo, posso falar sobre o meu começo aos seis anos de idade quando pela primeira vez conheci a instituição.
Ela, a instituição, estava em uma grande ascensão, crescendo de forma acelerada. Tudo que mexe com a fé das pessoas, com seus sentimentos, tudo que dá esperança a quem não tinha, isso sempre funciona, pois todo mundo precisa, de alguma forma, ter algo em que acreditar.
E foi isso que aconteceu com minha família. Na adolescência tudo que sabia, tudo que conhecia era a instituição. Sim, não uso nomes não somente em respeito à pessoas queridas que ainda pertencem a ela, mas também pelo fato de ter vários contratos de confidencialidade que assinei quando resolvi sair.
Quando você vive algo tão intensamente, especialmente quando é muito novo e imaturo para saber o que está fazendo, você faz tudo para se encaixar cada vez mais, a sua vida gira em torno disso, e tudo a sua volta parece errado, a não ser o que falam para você.
Cresci ouvindo frases do tipo: “nós somos a sua família”, “quem não está com a gente está no ‘mundo’ e o mundo pertence ao ‘mau’, “você precisa se afastar de quem não é da instituição, pois essas pessoas vão arrasta-lá ao inferno...”
Frases como estas e muitas outras são comuns dentro da instituição, quem não pertence a eles está perdido, está condenado; quem os crítica, ou não é de acordo com suas doutrinas, está com maus olhos, está os perseguindo é digno de pena pois está “possuído pelo mau”... Por muito tempo fui preparada pela instituição, moldada à sua vontade, minha família acreditava ser o melhor para mim, acreditavam que eu teria um bom futuro.
Abandonei muitas coisas, pessoas às quais eu gostava, não dei importância aos estudos, afinal o que realmente importava era ser cada vez mais útil para eles. Penso em como fui ingênua, pois acreditava que estava vivendo algo muito importante, algo maior e divino, e todo o resto, tudo que tinha no ‘mundo’ já era pequeno e não importava mais.
Sempre vi tudo com muito santidade, tudo que fazia, fazia da melhor forma possível, aprendíamos desde criança a nunca desagradar a Deus e que dentro da instituição as autoridades representavam Deus...
Lá dentro, todos os meninos queriam ser uma autoridade e todas as meninas queriam casar com um...
Quando olhava para uma *esposa a admirava profundamente. Eram mulheres diferentes, educadas, muito bem vestidas, respeitadas, e mesmo muito novas chamadas de senhora por todos a sua volta.
Seria essa a maior honra para uma mulher dentro da instituição. Para quem não conhece a instituição, não tem a menor ideia do tamanho, da organização e do potencial em controlar pessoas que ela tem. É muito difícil para alguém que não a conheça conseguir de fato entender.
Eu mesma só vim a realmente entender a proporção das coisas após meu casamento, antes disso ainda via como um lugar para ajudar pessoas, mas na verdade se tratava de uma grande empresa em grande desenvolvimento, crescendo às custas da fé e das crenças de muitas e muitas pessoas.
Você já parou para observar as pessoas apostando em loterias? Quem nunca comprou seu bilhete da Mega Sena?
Você compra um bilhete por um valor, e tem fé que receberá um prêmio algum dia, pois a final outras pessoas já foram contempladas... E assim milhares de pessoas fazem suas apostas diariamente, mas algumas não as fazem em casas lotéricas, fazem em instituições as quais a levam a “usar sua fé”, muitas pessoas ficam presas à esperança de algum dia mudarem de vida, pessoas que são fiéis e acreditam piamente no que estão fazendo, afinal se ela seguir tudo que lhes forem dito dentro da instituição estará agradando a Deus e ele as recompensará.
Conheci meu marido aos 15 anos, ele com 18. Tínhamos os mesmo objetivos, servir nossa vida toda à instituição. Ele sempre foi um homem muito honesto, trabalhava muito, suas reuniões eram sempre cheias, seguia fielmente a todas doutrinas da instituição. Também saiu de casa muito cedo, e passou a morar na igreja que tinha perto de casa aos 16 anos. Logo foi promovido, e recebeu responsabilidades, agora ele era uma autoridade.
Demoramos um certo tempo para nos casar. Ele precisava provar seu valor a instituição, e uma vez provado receberia aprovação para casar. É claro que eu também teria que me encaixar em muitos requisitos para ser digna de me casar com um pastor da igreja.
Na instituição, os pastores precisam da aprovação do líder para casar, muitos esperam por anos tal aprovação, muitos têm que desistir de suas namoradas e noivas e casar-se com quem a instituição recomendar.
Esperamos cinco anos para receber a aprovação do casamento, o que não foi fácil, por duas vezes ele foi recomendado a não casar comigo, chegou até a ser apresentado a uma filha de um pastor. Ele não aceitou, obviamente, e por tal decisão passou a ser tachado de rebelde e desobediente.
Sim parece uma história retirada de um livro ou novela, mas realmente aconteceu comigo, e ainda acontece com muitos que estão lá. O tempo passou e finalmente recebemos nossa aprovação para casar. Mas esse não seria nosso final feliz...
Meu marido sempre teve uma personalidade forte, e por muitas vezes não se encaixava em alguns grupos dentro da instituição. Quando casamos eu aos 20 anos e ele aos 24, ainda tínhamos a convicção de estar fazendo a coisa mais importante do mundo - salvando pessoas de suas vidas miseráveis e sofridas, dando-lhes a oportunidade de uma vida próspera e da salvação de sua alma - meu marido de fato tinha um desejo muito grande em ajudar as pessoas. Mas muito cedo ele aprendeu que precisava ser útil, que precisava dar lucro à instituição.
Com o destaque no seu trabalho, recebeu mais responsabilidades, e nos proporcionou uma vida confortável, nós vivíamos muito bem, morávamos bem, frequentávamos os melhores lugares, a instituição nos proporcionava um belo apartamento para morar, um bom carro e um ótimo salário.
Com isso nos prendíamos cada vez mais a uma rede difícil de se escapar. A instituição nos ensinava que tínhamos que sacrificar nossos desejos, nossas opiniões, nossos sonhos. É proibido ter bens pessoais, casa, carro, conta bancária, faculdade... Nada disso agradaria a Deus, pois não podíamos ter nenhuma reserva, tínhamos que ser totalmente dependentes deles.
Assim aceitávamos a vida que tínhamos agradecidos por a instituição “cuidar tão bem de nós”. Decidimos em não ter filhos, meu marido fez uma vasectomia aos 25 anos, sim a instituição recomendava ao casal não terem filhos, pois nada poderia atrapalhar nossa missão... mas falarei mais adiante sobre isso.
Logo que me casei comecei a trabalhar para a instituição. Eu acreditava que seria uma esposa de pastor, e que minha função seria ajudar a ele no seu trabalho, mas não era bem assim. Nós, as esposas, éramos de tudo um pouco, administrávamos os escritórios da instituição, tive que aprender tudo muito rápido, pois lá você não pode errar, pois se errar há algo de errado, você não está “bem com Deus”.
Trabalhávamos e trabalhávamos muito. A instituição nos chamavam de servas, e servo não tem direito a nada, não tínhamos direito a um salário, nem a se recusar a trabalhar, mas a verdade é que nos sentíamos honradas em ser úteis.
Assim como os pastores, não era permitido uma esposa frequentar uma faculdade, ou fazer um curso de especialização. Aprendíamos com as mais antigas a fazer o trabalho. Eu trabalhava na parte financeira, fui secretária, fui educadora da escola bíblica e mais tarde passei a ser coordenadora, era responsável pelo escritório da igreja em que estávamos. Não poderia errar em nada, ou meu marido seria chamado a atenção.
Além disso, também era minha a responsabilidade de cuidar das mulheres da igreja, aconselhando, fazendo reuniões e doutrinando as mais jovens assim como um dia fui doutrinada. Aos 28 anos, quando sai, sequer tinha a carteira de trabalho assinada.
Respeito profundamente as pessoas que estão lá. Apenas quero compartilhar situações vividas que levem a muitos entenderem o porquê de sair após tantos tempo, e também o porquê ter entrado e ficado tanto tempo.
Certo dia ouvi de meu marido: - será que algum dia, talvez bem no começo, alguma coisa foi verdade? Ou tudo sempre não passou de uma grande busca de um homem aos seus próprios interesses?..
Eu fiquei refletindo sobre isso, e com um certo pesar, lamentei ter feito parte de alguma forma. Apesar de não poder respondê-lo, posso falar sobre o meu começo aos seis anos de idade quando pela primeira vez conheci a instituição.
Ela, a instituição, estava em uma grande ascensão, crescendo de forma acelerada. Tudo que mexe com a fé das pessoas, com seus sentimentos, tudo que dá esperança a quem não tinha, isso sempre funciona, pois todo mundo precisa, de alguma forma, ter algo em que acreditar.
E foi isso que aconteceu com minha família. Na adolescência tudo que sabia, tudo que conhecia era a instituição. Sim, não uso nomes não somente em respeito à pessoas queridas que ainda pertencem a ela, mas também pelo fato de ter vários contratos de confidencialidade que assinei quando resolvi sair.
Quando você vive algo tão intensamente, especialmente quando é muito novo e imaturo para saber o que está fazendo, você faz tudo para se encaixar cada vez mais, a sua vida gira em torno disso, e tudo a sua volta parece errado, a não ser o que falam para você.
Cresci ouvindo frases do tipo: “nós somos a sua família”, “quem não está com a gente está no ‘mundo’ e o mundo pertence ao ‘mau’, “você precisa se afastar de quem não é da instituição, pois essas pessoas vão arrasta-lá ao inferno...”
Frases como estas e muitas outras são comuns dentro da instituição, quem não pertence a eles está perdido, está condenado; quem os crítica, ou não é de acordo com suas doutrinas, está com maus olhos, está os perseguindo é digno de pena pois está “possuído pelo mau”... Por muito tempo fui preparada pela instituição, moldada à sua vontade, minha família acreditava ser o melhor para mim, acreditavam que eu teria um bom futuro.
Abandonei muitas coisas, pessoas às quais eu gostava, não dei importância aos estudos, afinal o que realmente importava era ser cada vez mais útil para eles. Penso em como fui ingênua, pois acreditava que estava vivendo algo muito importante, algo maior e divino, e todo o resto, tudo que tinha no ‘mundo’ já era pequeno e não importava mais.
Sempre vi tudo com muito santidade, tudo que fazia, fazia da melhor forma possível, aprendíamos desde criança a nunca desagradar a Deus e que dentro da instituição as autoridades representavam Deus...
Lá dentro, todos os meninos queriam ser uma autoridade e todas as meninas queriam casar com um...
Quando olhava para uma *esposa a admirava profundamente. Eram mulheres diferentes, educadas, muito bem vestidas, respeitadas, e mesmo muito novas chamadas de senhora por todos a sua volta.
Seria essa a maior honra para uma mulher dentro da instituição. Para quem não conhece a instituição, não tem a menor ideia do tamanho, da organização e do potencial em controlar pessoas que ela tem. É muito difícil para alguém que não a conheça conseguir de fato entender.
Eu mesma só vim a realmente entender a proporção das coisas após meu casamento, antes disso ainda via como um lugar para ajudar pessoas, mas na verdade se tratava de uma grande empresa em grande desenvolvimento, crescendo às custas da fé e das crenças de muitas e muitas pessoas.
Você já parou para observar as pessoas apostando em loterias? Quem nunca comprou seu bilhete da Mega Sena?
Você compra um bilhete por um valor, e tem fé que receberá um prêmio algum dia, pois a final outras pessoas já foram contempladas... E assim milhares de pessoas fazem suas apostas diariamente, mas algumas não as fazem em casas lotéricas, fazem em instituições as quais a levam a “usar sua fé”, muitas pessoas ficam presas à esperança de algum dia mudarem de vida, pessoas que são fiéis e acreditam piamente no que estão fazendo, afinal se ela seguir tudo que lhes forem dito dentro da instituição estará agradando a Deus e ele as recompensará.
Conheci meu marido aos 15 anos, ele com 18. Tínhamos os mesmo objetivos, servir nossa vida toda à instituição. Ele sempre foi um homem muito honesto, trabalhava muito, suas reuniões eram sempre cheias, seguia fielmente a todas doutrinas da instituição. Também saiu de casa muito cedo, e passou a morar na igreja que tinha perto de casa aos 16 anos. Logo foi promovido, e recebeu responsabilidades, agora ele era uma autoridade.
Demoramos um certo tempo para nos casar. Ele precisava provar seu valor a instituição, e uma vez provado receberia aprovação para casar. É claro que eu também teria que me encaixar em muitos requisitos para ser digna de me casar com um pastor da igreja.
Na instituição, os pastores precisam da aprovação do líder para casar, muitos esperam por anos tal aprovação, muitos têm que desistir de suas namoradas e noivas e casar-se com quem a instituição recomendar.
Esperamos cinco anos para receber a aprovação do casamento, o que não foi fácil, por duas vezes ele foi recomendado a não casar comigo, chegou até a ser apresentado a uma filha de um pastor. Ele não aceitou, obviamente, e por tal decisão passou a ser tachado de rebelde e desobediente.
Sim parece uma história retirada de um livro ou novela, mas realmente aconteceu comigo, e ainda acontece com muitos que estão lá. O tempo passou e finalmente recebemos nossa aprovação para casar. Mas esse não seria nosso final feliz...
Meu marido sempre teve uma personalidade forte, e por muitas vezes não se encaixava em alguns grupos dentro da instituição. Quando casamos eu aos 20 anos e ele aos 24, ainda tínhamos a convicção de estar fazendo a coisa mais importante do mundo - salvando pessoas de suas vidas miseráveis e sofridas, dando-lhes a oportunidade de uma vida próspera e da salvação de sua alma - meu marido de fato tinha um desejo muito grande em ajudar as pessoas. Mas muito cedo ele aprendeu que precisava ser útil, que precisava dar lucro à instituição.
Com o destaque no seu trabalho, recebeu mais responsabilidades, e nos proporcionou uma vida confortável, nós vivíamos muito bem, morávamos bem, frequentávamos os melhores lugares, a instituição nos proporcionava um belo apartamento para morar, um bom carro e um ótimo salário.
Com isso nos prendíamos cada vez mais a uma rede difícil de se escapar. A instituição nos ensinava que tínhamos que sacrificar nossos desejos, nossas opiniões, nossos sonhos. É proibido ter bens pessoais, casa, carro, conta bancária, faculdade... Nada disso agradaria a Deus, pois não podíamos ter nenhuma reserva, tínhamos que ser totalmente dependentes deles.
Assim aceitávamos a vida que tínhamos agradecidos por a instituição “cuidar tão bem de nós”. Decidimos em não ter filhos, meu marido fez uma vasectomia aos 25 anos, sim a instituição recomendava ao casal não terem filhos, pois nada poderia atrapalhar nossa missão... mas falarei mais adiante sobre isso.
Logo que me casei comecei a trabalhar para a instituição. Eu acreditava que seria uma esposa de pastor, e que minha função seria ajudar a ele no seu trabalho, mas não era bem assim. Nós, as esposas, éramos de tudo um pouco, administrávamos os escritórios da instituição, tive que aprender tudo muito rápido, pois lá você não pode errar, pois se errar há algo de errado, você não está “bem com Deus”.
Trabalhávamos e trabalhávamos muito. A instituição nos chamavam de servas, e servo não tem direito a nada, não tínhamos direito a um salário, nem a se recusar a trabalhar, mas a verdade é que nos sentíamos honradas em ser úteis.
Assim como os pastores, não era permitido uma esposa frequentar uma faculdade, ou fazer um curso de especialização. Aprendíamos com as mais antigas a fazer o trabalho. Eu trabalhava na parte financeira, fui secretária, fui educadora da escola bíblica e mais tarde passei a ser coordenadora, era responsável pelo escritório da igreja em que estávamos. Não poderia errar em nada, ou meu marido seria chamado a atenção.
Além disso, também era minha a responsabilidade de cuidar das mulheres da igreja, aconselhando, fazendo reuniões e doutrinando as mais jovens assim como um dia fui doutrinada. Aos 28 anos, quando sai, sequer tinha a carteira de trabalho assinada.